Festa de Cristo Rei
(Ez 34, 11-12; 15-17; Sl 22; 1 Cor 15, 20-18; Mt 25, 31-46)
A liturgia da Igreja é feita de ciclos. Cada tempo litúrgico corresponde a um ciclo específico. O tempo do Advento, o ciclo natalício, a quaresma, o ciclo da pascal, as festas e os santos importantes festejados na Igreja e claro o tempo comum que neste final de semana celebramos. Todo o calendário litúrgico se encaminha para a solenidade que hoje celebramos: A festa de Cristo Rei e Senhor do Universo.
É para este “oriente” que se encaminha a caminhada litúrgica eclesial. A vida é também liturgia. Ela também é feita de ciclos e ritos. Quando os homens perdem o significado ritual da vida, eles perdem também aquilo que sustenta o ritmo da existência humana: Nascer, crescer, tornar-se adulto, saber envelhecer e morrer, são ciclos da vida que se abrem e se concluem diante de nós todos sem que seja preciso muita reflexão, é o ordinário no tempo existencial de cada um.
Neste final de semana celebramos a alegria da conclusão de mais um ciclo litúrgico. Desde que o calendário litúrgico foi assumido na Igreja no séc V; com sabedoria a Igreja segue esta melodia litúrgica. O tempo litúrgico tens muitos fins seguramente. Mas um deles somos sempre chamados a abraçar: Nele nós vivemos e celebramos nossa vida de santidade. Nele Deus nos chama á “esperar”, à “mudar e purificar nosso coração”, à festejar, e a caminhar como peregrinos até o foco que a Igreja jamais perde de vista que é : Cristo Senhor de todas as coisas: “conforme decisão prévia que lhe aprouve tomar, para levar o tempo à sua plenitude: a de em Cristo encabeçar todas as coisas as que estão nos céus e na terra” (Ef 3, 10).
Na liturgia deste final de semana, a Igreja nos chama atenção a revisão de nossa caminhada. Para que este “exame” se realize de forma concreta, e não meramente subjetiva, os critérios nos são dados pela Palavra de Deus. É ela a Palavra do Senhor que deve trazer luz aos lugares que permanecem ainda escuros e sombrios, em nossa vida. Será ela, a Palavra, que permitirá que ciclos vitais ainda abertos dentro de nós ou inconclusos venham a fechar-se e resolver-se neste final de ano litúrgico.
A liturgia neste final de semana aponta para um ciclo que permanece aberto entre nós e que invariavelmente todos temos de participar: Neste “exame de final de ano litúrgico”, nossa aprovação espiritual deve permitir-se interpelar pelos apelos que o evangelista Mateus nos provoca: “ Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita; Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a fundação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar” (Mt 25, 34-36).
Com certeza durante todo este ano fizemos muitas coisas. Realizamos boas obras em nome de nossa comunidade, de nosso movimento eclesial, em nossa vida espiritual, mas não poderíamos encerrar este ano sem que nossa vida cristã queira participar de forma efetiva deste ciclo que permanece aberto em nossa sociedade.
O Papa Francisco no lançamento do dia mundial dos pobres enviou uma belíssima mensagem a toda a Igreja, nela estava presente o eixo de nossa vida cristã: unir fé e obras, vida interior e misericórdia, mãos e coração: “ «Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade» (1 Jo 3, 18). Estas palavras do apóstolo João exprimem um imperativo de que nenhum cristão pode prescindir. A importância do mandamento de Jesus, transmitido pelo «discípulo amado» até aos nossos dias, aparece ainda mais acentuada ao contrapor as palavras vazias, que frequentemente se encontram na nossa boca, às obras concretas, as únicas capazes de medir verdadeiramente o que valemos. O amor não admite álibis: quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo, sobretudo quando somos chamados a amar os pobres. Aliás, é bem conhecida a forma de amar do Filho de Deus, e João recorda-a com clareza. Assenta sobre duas colunas mestras: o primeiro a amar foi Deus (cf. 1 Jo 4, 10.19); e amou dando-Se totalmente, incluindo a própria vida (cf. 1 Jo 3, 16).Um amor assim não pode ficar sem resposta” (Papa Francisco).
Do ponto de visto litúrgico, esta solenidade de Cristo Rei e Senhor do Universo propõe um movimento de toda a humanidade e criação em direção à Cristo. O apóstolo Paulo expressa esta realidade na segunda leitura: “E quando todas as coisas estiverem submetidas a Ele, então o próprio Filho se submeterá áquele que lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos” (1 Cor 15, 28). Celebrar Cristo Rei, é celebrar este destino, esta recapitulação de todas as coisas em Cristo (oração da coleta), no entanto sem esquecer que este destino, este caminho, esta direção passa por situações práticas e concretas: Passa pelo amor ao próximo e aos mais pequeninos. São João da Cruz o grande teólogo-místico do séc. XVI, nos oferece uma bela intuição para este “exame” de final de ano litúrgico: “ No final da vida seremos julgados pelo amor”. No final de nosso ciclo seremos julgados com a seguinte sentença: “ Senhor quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Então o rei lhes responderá: Em verdade vos digo que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 37-40).
Encerrando este ciclo anual litúrgico cheio de muitas graças e bênçãos recebidas por Deus, a Palavra do Senhor nos oferece nova oportunidade de abrirmos nova etapa em nossa vida espiritual. Que não esqueçamos dos critérios que o bom Senhor nos apresenta neste dia, e que no dia em que formos julgados, que pese sobre nós apenas o amor que doamos aos mais pequeninos.
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