Neste terceiro domingo da quaresma a Palavra de Deus nos convida a lançarmos um olhar sobre o perdão e a cura em nossa vida!! Estas dimensões, perdão e cura convivem sempre conosco! Precisamos delas em nossa vida espiritual pois somos chamados a oferecê-la a outros.
O Sl 102 que acompanha nossa liturgia dominical medita com profundidade esta dimensão: “ Ele te perdoa de toda a culpa e cura toda a sua enfermidade, da sepultura ele salva tua vida e te cerca de carinho e compaixão” (Sl 102, 1-2)!
A liturgia da Palavra deste domingo quer recontar a história de uma culpa, transformada em perdão e encontro profundo com Deus! E fazer-nos um belo incentivo de que em Deus é possível elaborar melhor as nossas culpas e transformá-las em perdão e reconciliação! A culpabilidade, a consciência do pecado, do erro, da ofensa é uma realidade que nos cerca e com toda a certeza já nos visitou! O grande Agostinho de Hipona dedicou uma de sua mais importante obra: “Confissões”, refletindo o seu significado: “ Quem desembaraçará este nó assim tão complicado e emaranhado? É uma ação indigna, nela não quero pensar e não a quero analisar…” (Cof. Livro II, 10)
Na primeira leitura (Ex 3, 1-8; 13-15) temos o relato do encontro de Moisés com Deus no Horeb diante da sarça ardente. O texto impressiona pela beleza! Moisés está apascentando o rebanho de seu sogro (Jethro) no deserto! Apenas esta imagem já nos serviria para uma boa meditação: “Moisés apascentava o rebanho de Jethro seu sogro (…) Levou um dia o rebanho deserto adentro e chegou ao monte Horeb” (Ex 3, 1)!!
Este primeiro versículo é figura da missão que Moisés irá receber da parte de Deus! Ele tempos depois entrará deserto adentro com o povo de Israel, subindo também o monte (Sinai), até chegar a terra prometida, a terra sagrada e desejada por Deus! Onde devemos tirar as sandálias por que a terra é santa! No entanto esta summa missão de Moisés foi antecipada pela dolorosa experiência de culpa! Antes de ser tocado pelo Senhor no monte, Moisés foi alcançado pelo erro e pelo pecado! Antes da “Sarça ardente” abrasar o seu coração, outra “sarça o consumiu por dentro”!!
A história de Moisés é história de todos nós!! É minha e sua, de Pedro, João, Agostinho e Francisco! É história que Paulo reescreveu cheio do Espírito Santo: “ Onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus” (Rm 5, 20)!! É relato de quem a partir de Deus fez de sua maior dor, experiência de cura e perdão, de quem pode como o salmista desta liturgia repetir inúmeras vezes o versículo: “ Ele te perdoa de toda a culpa e cura tua enfermidade”
(102, 1)!!
Moisés no topo do Horeb tem seu encontro com Deus: “Apareceu-lhe o anjo do Senhor numa chama de fogo, do meio de uma sarça”(Ex 3, 2)! O encontro de Moisés no monte revela um lugar comum da experiência de Deus! Elas acontecem no cotidiano: “Apascentava o rebanho de seu sogro (…) conduziu as ovelhas para o deserto” (Ex 3, 1-2)! Na qual Deus toma sempre a iniciativa: “ O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade de Nazaré (…)” (Lc 1, 26)! O que nos diz algo bem interessante: é necessário estar atentos aos sinais de Deus no tempo presente!
Continuando: “Moisés olhou eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se consumia” (Ex 3, 2)!! A sarça é uma planta espinhosa do gênero das acácias, de tamanho médio! Moisés conhecia algo semelhante a este fenômeno! Algo dentro dele há muito o queimava, o machucava como a agulhada de um espinho e não se consumia! Era sua experiência de culpa! Sua grande dor, que só poderia vir a ser “curada” por uma grande experiência de perdão: “ Naqueles dias, Moisés já crescido, saiu para ver seus irmãos e viu também as tarefas que pesavam sobre eles (…) matou o egípcio e o escondeu na areia”(Ex 2, 11-13)! Após o erro a fuga para o deserto! Podemos querer fugir de muitos de nossos problemas, de nossas pequenas sarças! No entanto elas permanecem conosco, continuaram a queimar, a nos ferir como espinho a não se consumirem dentro de nossa vida!
A primeira leitura deste final de semana nos oferece um caminho! O caminho é tentar fazer o que fez Moisés: “ Então disse Moisés: ‘ Darei uma volta e verei este fenômeno estranho e verei por que a sarça não se consome” (Ex 3, 3)!
Em outras palavras basta de fugir: É preciso olhar! Olhar com cuidado, dar uma volta! A simbólica do sagrado sempre afirmou que nosso caminho em direção a Deus é sempre circular… Caminhamos muitas vezes em círculos em sua direção! Você talvez conheça aquelas pessoas “super convertidas ou muito decididas”, que andam com muita pressa em direção ao Senhor! Afirmam-se convertidas, integradas, mas logo das primeiras crises, costumam abandonar o barco que navegavam: “o que foi semeado em lugares pedregosos, é aquele que ouve a palavra e a recebe imediatamente com alegria, mas não têm raiz em si mesmo, é de momento, quando surge uma perseguição ou tribulação por causa da palavra logo sucumbe” (Mt 13, 20)!!
Moisés ao contrário se encaminha com prudência e cuidado: “ Viu o Senhor que Ele deu uma volta para ver” (Ex 3, 4)! Não é muito fácil ir de encontro com nossas “sarças”!! É sempre dolosoro, mas sempre libertador!! E lá do meio da sarça, o Senhor fala: “Moisés, Moisés !!. Este respondeu: Eis-me aqui: “ Não te aproximes daqui; tire as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa” (Ex 3, 5)! Nosso Deus, “paciente, bondoso e compassivo” (Sl 102, 8)! De onde nos fala? Do meio de nossas sarças. E o que isso significa? Que elas, lugares antes de culpa e erro, a partir do perdão e da cura de Deus, podem ser lugares santos!! É preciso tirar sandálias! Este lugar que para você foi sempre ambiente da vergonha, em Deus, pode ser o começo de um grande santuário!! Nosso Moisés descobriu isto no Horeb! E a sarça do amor de Deus, curou a começou a curar as sarças do pecado em sua vida!!
A sarça é uma figura da Cruz de Cristo: Nela : “Cristo nos resgatou da maldição da lei, tornando-se maldição por nós, porque esta escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro” (Gl 3, 13)
No Evangelho deste final de semana, a Palavra do Senhor nos apresente uma outra árvore: Agora estamos diante de uma figueira! Há parábola diz que esta, há três anos não portava frutos: O dono da vinha diz: Corta-a! Ao contrário o vinhateiro da parábola argumenta: “ Senhor deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto” (Lc 13, 8)!
A figueira sempre foi imagem de Israel! Mas pode ser imagem da Igreja, e até de nós mesmos! Irmãos às vezes nós queremos “cortar” de imediato aquilo que em nossa vida não está dando frutos: Cortar nossas sarças não é caminho… É preciso a paciência do vinhateiro! Ele como um jardineiro, trabalha com amor em volta da figueira! Ele é Cristo, que trabalha em torno de nossa vida, de nossas dores! Deixemos neste tempo da quaresma que Jesus seja o jardineiro de nossas vidas, pois: “Ele perdoa toda a tua culpa e cura toda a tua enfermidade” (102, 3)!!